AQUELE QUE DIZ SIM
1
O grande coro — O mais importante de tudo é aprender a estar de acordo.Muitos dizem sim, mas sem estar de acordo. Muitos não são consultados, e muitos Estão de acordo com o erro.
Por isso:
O mais importante de tudo é aprender a estar de acordo.
O professor está no Plano 1; a mãe e o menino, no plano 2.
O Professor — Eu sou o professor. Eu tenho uma escola na cidade e tenho um aluno cujo pai morreu. Ele só tem a mãe, que cuida dele. Agora, eu vou até a casa deles para me despedir, porque estou de partida para uma viagem às montanhas. É que surgiu uma epidemia entre nós, e na cidade, além das montanhas, moram alguns grandes médicos.
Bate na porta. Posso entrar?
O Menino passando do plano 2 para o plano 1 — Quem é? Oh, o professor está aqui! O professor veio nos visitar!
O Professor — Por que faz tanto tempo que você não vai à escola na cidade?
O Menino — Eu não podia ir porque minha mãe ficou doente.
O Professor — Eu não sabia que ela também estava doente. Por favor, vá logo dizer a ela que eu estou aqui.
O Menino grita em direção ao plano 2 — Mamãe, o professor está aqui.
A Mãe sentada no plano 2 — Mande entrar.
O Menino — Entre, por favor.
Os dois entram no plano 2.
O Professor — Faz muito tempo que eu não venho aqui. Seu filho diz que a senhora também ficou doente. Está melhor agora?
A Mãe — Infelizmente não estou nada melhor, já que até agora não se conhece nenhum remédio para essa doença.
O Professor — A gente tem que descobrir alguma coisa. Por isso eu vim me despedir de vocês: amanhã eu vou partir para uma viagem através das montanhas em busca de remédios e instruções. Porque na cidade, além das montanhas, moram os grandes médicos.
A Mãe — Uma caravana de socorro nas montanhas! É verdade, eu ouvi dizer que os grandes médicos moram lá, mas também ouvi dizer que é uma caminhada perigosa. O senhor pretende levar meu filho?
O Professor — Numa viagem como esta não se levam crianças.
A Mãe — Bom, espero que o senhor volte com saúde.
O Professor — Agora eu tenho que ir embora. Adeus.
Sai para o plano 1.
O Menino seguindo o Professor, no plano 1 — Eu tenho que dizer uma coisa.
A mãe escuta à porta.
O Professor — O que é?
O Menino — Eu quero ir com o senhor para as montanhas.
O Professor — Como eu já disse à sua mãe, É uma viagem dificil e Perigosa. Você não
Vai conseguir nos acompanhar. Além disso:
Como você pode querer abandonar
Sua mãe, que está doente?
Fique. É absolutamente
Impossível você vir conosco.
O Menino — É porque minha mãe está doente que Eu quero ir com você, para Buscar para ela remédios e instruções
Com os grandes médicos, na cidade além das montanhas.
O Professor — Eu tenho que falar com sua mãe novamente.
Ele volta ao plano 2. O menino escuta à Porta.
O Professor — Estou aqui de novo. Seu filho diz que quer vir conosco. Eu expliquei que ele não poderia deixar a senhora sozinha e doente e que, além disso, é uma viagem difícil e perigosa. É absolutamente impossível você vir conosco, eu lhe disse. Mas ele respondeu que tem que ir à cidade, além das montanhas, buscar remédios e instruções para a sua doença.
A Mãe — Eu ouvi suas palavras. E não duvido do que o menino diz — que ele gostaria de fazer a caminhada perigosa com o senhor. Meu filho, venha cá.
O menino entra no plano 2.
Desde o dia em que Seu pai nos deixou,
Eu não tenho ninguém
A não ser você ao meu lado.
Você nunca saiu
De minha vista nem do meu pensamento
Por mais tempo que eu precisasse
Para fazer sua comida,
Arrumar suas roupas e
Ganhar dinheiro.
O Menino — É como a senhora diz. Mas apesar disso nada vai poder me desviar do que eu pretendo.
O Menino, a Mãe e o Professor — Eu vou (ele vai) fazer a perigosa caminhada E buscar remédios e instruções Para a sua (a minha) doença,
Na cidade além das montanhas.
O Grande Coro— Eles viram que nenhum argumento Podia demovê-lo. Então o professor e a sua mãe disseram
Numa só voz:
O Professor e a Mãe — Muitos estão de acordo com o erro, mas ele Não está de acordo com a doença, e sim Em acabar com a doença.
O Grande Coro — A mãe ainda disse:
A Mãe — Eu já não tenho mais forças. Se assim tem que ser, Vá com o professor,
Mas volte logo.
2
O Grande Coro — As pessoas começaram a viagem Para as montanhas. Entre elas estavam o professor
E o menino.
Mas o menino não podia suportar tanto esforço:
Ele forçou demais seu coração,
Que pedia retorno imediato.
Na alvorada, ao pé das montanhas,
Ele quase não conseguia mais
Arrastar seus pés cansados.
Entram no plano 1: o Professor, os três estudantes e, por último, o menino trazendo um cantil.
O Professor — A subida foi rápida. Lá está a primeira cabana. Lá nós vamos parar um pouco.
Os Três Estudantes — Nós obedecemos.
Eles sobem num estrado no plano 2. O menino detém o Professor.
O Menino — Eu tenho que dizer uma coisa.
O Professor — O que é?
O Menino — Eu não me sinto bem.
O Professor — Pare! Quem faz uma viagem como esta não pode dizer essas coisas. Talvez você esteja cansado por não estar acostumado a subir montanhas. Pare e descanse um pouco.
Ele sobe no estrado.
Os Três Estudantes — Parece que o menino está cansado por causa da subida. Vamos perguntar ao professor.
O Grande Coro — Sim. Perguntem!
Os Três Estudantes ao Professor — Nós ouvimos que o menino está cansado por causa da subida. O que há com ele? Você está preocupado com ele?
O Professor — Ele não está se sentindo bem, é só isso. Ele está só cansado por causa da subida.
Os Três Estudantes — Então você não está preocupado com ele?
Longa pausa.
Os Três Estudantes entre eles — Vocês ouviram? O professor disseQue o menino está somente cansado por causa da subida.
Mas ele não está ficando com uma aparência muito estranha?
Logo depois da cabana vem a passagem estreita.
Só se pode passar por ela
Agarrando-se à rocha com as duas mãos.
Tomara que ele não esteja doente,
Porque, se ele não puder continuar, nós vamos ter que
Deixar o menino aqui.
Eles gritam em direção ao Plano 1, com as mãos em concha:Você está doente? — Ele não responde. — Vamos perguntar ao professor.Ao professor: Quando há pouco perguntamos pelo menino, você disse que ele estava simplesmente cansado por causa da subida, mas agora ele está com uma aparência muito estranha. Olhe, ele até está sentado.
O Professor — Estou vendo que ele ficou doente. Tentem carregá-lo na passagem estreita.
Os Três Estudantes — Vamos tentar.
Os três estudantes tentam atravessar a “passagem estreita” carregando o menino. A “passagem estreita” deve ser construída pelas atores com estrados, cordas, cadeiras etc., de tal forma que os três estudantes possam passar sós, mas não carregando o menino.
Os Três Estudantes — Não podemos passar com ele e também não podemos ficar com ele. Aconteça o que acontecer, nós temos que continuar porque uma cidade inteira está esperando o remédio que nós viemos buscar. É terrível ter que dizer isto, mas, se ele não pode vir conosco, nós vamos ter que deixar o menino aqui, nas montanhas.
O Professor — É verdade, talvez tenham que fazer isto. Eu não posso me opor a vocês. Mas eu acho justo que se pergunte àquele que ficou doente se se deve voltar por sua causa. Meu coração tem pena dessa pessoa. Eu vou até ele e, com o maior cuidado, vou prepará-lo para o seu destino.
Os Três Estudantes — Faça isso, por favor.
Eles se colocam frente a frente.
Os Três Estudantes e o Grande Coro — Nós vamos lhe perguntar (eles lhe perguntaram) se ele querQue se volte (que voltem) por sua causa.Porém, mesmo se ele quiser,
Nós não vamos (eles não iam) voltar,
E sim deixá-lo aqui e continuar.
O Professor, que foi até o menino no plano 1 — Presta atenção! Como você ficou doente e não pode continuar, vamos ter que deixar você aqui. Mas é justo que se pergunte àquele que ficou doente se se deve voltar por sua causa. E o costume exige que aquele que ficou doente responda: vocês não devem voltar.
O Menino — Eu compreendo.
O Professor — Você exige que se volte por sua causa?
O Menino — Vocês não devem voltar!
O Professor — Então você está de acordo em ser deixado aqui?
O Menino — Eu quero pensar. Pausa para reflexão. Sim, eu estou de acordo.
O Professor grita em direção ao plano 2 — Ele respondeu conforme a necessidade!
O Grande Coro e os Três Estudantes no momento em que os três estudantes descem ao Plano 1 — Ele disse sim. Continuem!
Os três estudantes param.
O Professor — Agora continuem, não parem,Porque vocês decidiram continuar.
Os três estudantes não se movem.
O Menino — Eu quero dizer uma coisa: eu peço que não me deixem aqui, e sim me joguem no vale, porque eu tenho medo de morrer sozinho.
Os Três Estudantes — Nós não podemos fazer isso.
O Menino — Parem! Eu exijo.
O Professor — Vocês decidiram continuar e deixá-lo aqui. É fácil decidir o seu destino, mas difícil executá-lo.
Estão prontos para jogá-lo no vale?
Os Três Estudantes — Sim.
Os três estudantes levam o menino para o estrado no plano 2.
Encoste a cabeça em nossos braços.
Não faça força.
Nós levamos você com cuidado.
Os três estudantes colocam o menino na parte posterior do estrado e, de pé à sua frente, escondem-no do público.
O Menino invisível — Eu sabia muito bem que nesta viagem Arriscava perder minha vida. Foi pensando em minha mãe
Que me fez partir.
Tomem meu cantil,
Ponham o remédio nele
E levem para minha mãe,
Quando vocês voltarem.
O Grande Coro — Então os amigos pegaram o cantil E deploraram os tristes caminhos do mundo E suas duras leis amargas,
E jogaram o menino.
Pé com pé, um ao lado do outro,
Na beira do abismo,
De olhos fechados, eles jogaram o menino,
Nenhum mais culpado que o outro.
E jogaram pedaços de terra
E umas pedrinhas
Logo em seguida.